Declaração de Jerónimo de Sousa sobre a greve geral

Poderosa afirmação de protesto<br>e de exigência de mudança

Numa de­cla­ração pro­fe­rida ao final da tarde do dia 22 e en­viada aos ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial, que trans­cre­vemos na ín­tegra, Je­ró­nimo de Sousa ava­liou a greve geral re­a­li­zada nesse dia e apelou à con­ti­nu­ação da luta contra o pacto de agressão e por um Por­tugal com fu­turo.

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A greve geral de hoje cons­titui uma grande greve geral, uma po­de­rosa afir­mação de des­con­ten­ta­mento e pro­testo, de exi­gência de mu­dança por parte dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês. O PCP saúda os tra­ba­lha­dores por­tu­gueses por este marco de grande sig­ni­fi­cado na his­tória da sua luta. O PCP saúda a CGTP-IN e todos os sin­di­catos e de­mais or­ga­ni­za­ções dos tra­ba­lha­dores que se uniram nesta grande de­mons­tração de força e com­ba­ti­vi­dade.

Uma grande greve geral, ao nível das greves ge­rais an­te­ri­ores, com uma grande par­ti­ci­pação de tra­ba­lha­dores em todos os sec­tores e todas as re­giões do País. Uma greve com uma adesão cons­truída a pulso, as­sente na acção co­lec­tiva e em múl­ti­plos exem­plos de ini­ci­a­tiva e co­ragem in­di­vi­dual.

Uma greve geral com um grande im­pacto. Com uma forte adesão na área in­dus­trial nos mais di­versos sec­tores de que são exemplo a Por­tucel Viana do Cas­telo, a Cen­tralcer, a Exide, Va­lorsul, Sakthi, Groz Bec­kert, Brow­ning, Fun­frap, os Es­ta­leiros de Viana do Cas­telo, a Lis­nave, Ar­senal do Al­feite, a Vis­teon, a Par­malat, a Eical, a Paulo de Oli­veira, o sector cor­ti­ceiro/Grupo Amorim, minas da Pa­nas­queira, Im­pormol, INCM, Cavan, Saint Go­bain/​Se­kurit.

Com ex­pressão no sector dos ser­viços, uma ele­vada adesão no sector dos cor­reios, nos cen­tros de con­tacto da EDP, im­por­tantes ex­pres­sões em ou­tros sec­tores, in­cluindo no sector do co­mércio e ho­te­laria. O sector da pesca for­te­mente afec­tado.

Uma ele­vada adesão na ad­mi­nis­tração pú­blica, na ad­mi­nis­tração local com muitas ade­sões to­tais ou su­pe­ri­ores a 90 por cento, no­me­a­da­mente na re­colha de lixo, trans­portes ur­banos mu­ni­ci­pais e sec­tores ope­rá­rios e au­xi­li­ares, na ad­mi­nis­tração cen­tral, com cen­tenas de es­colas dos vá­rios ní­veis de en­sino e jar­dins-de-in­fância en­cer­rados e muitos ou­tros es­ta­be­le­ci­mentos de en­sino pro­fun­da­mente afec­tados no seu fun­ci­o­na­mento e im­por­tantes in­ci­dên­cias nos ser­viços de Saúde, na Jus­tiça, nas Fi­nanças e na Se­gu­rança So­cial.

Uma grande adesão no sector dos trans­portes com pa­ra­li­sa­ções to­tais ou acima dos 70 e 80 por cento, de que é exemplo o sector ma­rí­timo/​por­tuário, o Metro de Lisboa, a CP em todo o País com grande adesão, os trans­portes flu­viais com mais de 75 por cento na So­flusa e 70 por cento na Trans­tejo, o STCP e o Metro do Porto, as trans­por­ta­doras ro­do­viá­rias de pas­sa­geiros re­gi­o­nais, o Metro Sul do Tejo com a maior pa­ra­li­sação de sempre e re­gis­tando-se nos trans­portes aé­reos uma adesão mais baixa.

 

Ina­pa­gável de­mons­tração de pro­testo

 

Uma greve geral que, em al­gumas re­giões, atingiu glo­bal­mente ex­pres­sões su­pe­ri­ores de an­te­ri­ores greves ge­rais, bem como em al­guns sec­tores, de que é exemplo a ad­mi­nis­tração local, no­me­a­da­mente no sector da re­colha de lixos e em ou­tras áreas da ad­mi­nis­tração pú­blica, bem como no sector in­dus­trial e dos ser­viços.

Uma greve geral tanto mais sig­ni­fi­ca­tiva quanto se ve­ri­ficou nas con­di­ções do maior nível de de­sem­prego desde o fas­cismo, da pre­ca­ri­e­dade, de em­po­bre­ci­mento, de ca­rência em que cada dia de sa­lário conta, de so­fis­ti­cadas formas de con­di­ci­o­na­mento e co­ação ide­o­ló­gica, de ameaça, re­pressão, ar­bi­tra­ri­e­dade e vi­o­lação da lei da greve, de des­va­lo­ri­zação e si­len­ci­a­mento quer antes quer du­rante a greve. Os ele­vados ín­dices de adesão nas con­di­ções de hoje são uma ina­pa­gável de­mons­tração de des­con­ten­ta­mento e pro­testo.

Nesta greve geral sa­li­enta-se e saúda-se o des­ta­cado en­vol­vi­mento de jo­vens e de tra­ba­lha­dores com vín­culos pre­cá­rios, a ele­vada par­ti­ci­pação nos pi­quetes de greve e a forte ex­pressão de rua nas con­cen­tra­ções, ma­ni­fes­ta­ções e des­files já re­a­li­zados e em curso. Quero daqui saudar todos aqueles que se as­so­ci­aram das mais di­versas formas a esta im­por­tante jor­nada de luta, no­me­a­da­mente muitos dos tra­ba­lha­dores que in­te­gram os mais de um mi­lhão e du­zentos mil de­sem­pre­gados im­pe­didos de fazer greve porque lhes li­qui­daram o posto de tra­balho, bem como re­for­mados e pen­si­o­nistas, pe­quemos e mé­dios em­pre­sá­rios e jo­vens es­tu­dantes.

 

Re­jeição da ex­plo­ração e da in­jus­tiça

 

A greve geral é uma clara re­jeição do pacto de agressão subs­crito pelo PS, PSD e CDS-PP, com o FMI, a UE e o BCE, com o apoio do Pre­si­dente da Re­pú­blica, cujas con­sequên­cias dia-a-dia se apro­fundam agra­vando a ex­plo­ração, o em­po­bre­ci­mento e em­pur­rando o País para o de­sastre. A greve geral é uma clara re­jeição dos ata­ques aos tra­ba­lha­dores, do corte nos sa­lá­rios, nos sub­sí­dios, nos di­reitos, nos apoios so­ciais, nos ser­viços pú­blicos.

A greve geral é uma clara re­jeição da re­cessão eco­nó­mica que está a des­truir ca­pa­ci­dade pro­du­tiva, em­prego e pro­dução de ri­queza, da re­ti­rada de mi­lhares de mi­lhões de euros ao povo para en­tregar no BPN, de roubo de somas co­los­sais para en­gordar os lu­cros do grande ca­pital a pre­texto de pa­ga­mento de juros de uma dí­vida em grande parte ile­gí­tima.

A greve geral é uma clara re­jeição do pa­cote da al­te­ração para pior da le­gis­lação de tra­balho e que visa atingir todos os tra­ba­lha­dores.

Re­jeição do tra­balho for­çado e gra­tuito com a eli­mi­nação de fe­ri­ados, re­dução de dias de fé­rias e corte de dias de des­canso obri­ga­tório. Re­jeição da di­mi­nuição de sa­lá­rios, de­sig­na­da­mente com o corte no pa­ga­mento do tra­balho em dias de des­canso e nas horas ex­tra­or­di­ná­rias.

Re­jeição da ten­ta­tiva de ge­ne­ra­li­zação do banco de horas, que po­deria sig­ni­ficar tra­ba­lhar 12 horas por dia e 60 horas por se­mana, vi­sando o pro­lon­ga­mento do ho­rário de tra­balho. Re­jeição da fa­ci­li­tação dos des­pe­di­mentos, com a pos­si­bi­li­dade de in­vo­cação da baixa de pro­du­ti­vi­dade do tra­ba­lhador e a di­mi­nuição do valor das in­dem­ni­za­ções.

Re­jeição do ataque à con­tra­tação co­lec­tiva. Re­jeição de um pa­cote la­boral que sig­ni­fica mais des­pe­di­mentos, de­sem­prego, pre­ca­ri­e­dade, cortes dos sa­lá­rios e pen­sões, de­gra­dação das con­di­ções de tra­balho, um imenso re­tro­cesso so­cial e ci­vi­li­za­ci­onal. A re­jeição deste pa­cote teve hoje uma clara exi­gência para que não seja apro­vado nem pro­mul­gado.

 

É pos­sível um País mais justo e de­sen­vol­vido

 

Uma exi­gência que pros­segue na luta para que, em qual­quer caso, não seja apli­cado. No se­gui­mento da grande ma­ni­fes­tação na­ci­onal de 11 de Fe­ve­reiro, a greve geral de hoje re­pre­senta uma inequí­voca exi­gência duma vida me­lhor, dum Por­tugal com fu­turo. Re­jeitar o pacto de agressão, pro­mover a rup­tura com a po­lí­tica de di­reita, as­se­gurar uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda, com a re­ne­go­ci­ação da dí­vida nos mon­tantes, nos prazos e nos juros, a aposta no sector pro­du­tivo e na pro­dução na­ci­onal, o con­trolo pú­blico sobre os sec­tores es­tra­té­gicos, a va­lo­ri­zação do tra­balho e dos tra­ba­lha­dores, de­sig­na­da­mente o au­mento dos sa­lá­rios e das pen­sões, a ga­rantia dos apoios so­ciais, a de­fesa dos ser­viços pú­blicos, o apoio aos micro pe­quenos e mé­dios em­pre­sá­rios, a afir­mação da so­be­rania na­ci­onal é o único ca­minho para Por­tugal.

O PCP, re­a­fir­mando a con­fi­ança de que é pos­sível um Por­tugal mais de­sen­vol­vido e mais justo, apela aos tra­ba­lha­dores, à ju­ven­tude, ao povo por­tu­guês para que pros­sigam, mul­ti­pli­quem e in­ten­si­fi­quem a sua acção e luta e desde já su­blinha a im­por­tância da par­ti­ci­pação na ma­ni­fes­tação na­ci­onal da ju­ven­tude tra­ba­lha­dora e na ma­ni­fes­tação na­ci­onal em de­fesa das fre­gue­sias e do poder local que se re­a­lizam dia 31 de Março em Lisboa.

O PCP apela a todos os de­mo­cratas e pa­tri­otas para que se mo­bi­lizem, na re­jeição do pacto de agressão, por um Por­tugal com fu­turo.



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